Março 2023

10 abr 2023

Valorizações apesar dos receios com o setor bancário

No mês, salientou-se o desempenho positivo da maioria dos mercados acionistas, apesar de ter sido um mês marcado pelos receios sobre a resiliência do sistema financeiro.

Em março, salientou-se o desempenho positivo da maioria dos mercados acionistas, apesar de ter sido um mês marcado pelos receios sobre a resiliência do sistema financeiro. Em concreto, as dificuldades evidenciadas por alguns bancos regionais dos EUA e por instituições com situações mais frágeis em outras geografias motivaram as referidas preocupações. Neste âmbito, várias autoridades e reguladores agiram de forma célere para restaurar a confiança no setor, o que acabou por gerar suporte à classe de ações. Em paralelo, assistiu-se à queda generalizada das yields, com o mercado a descontar que a Fed irá cortar as taxas no 2º semestre de 2023, o que resultou na valorização de governos.

Enquadramento: março 2023

No domínio económico, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), no seu relatório intercalar de perspetivas, considerou existirem indícios de uma retoma na atividade global. Neste sentido, notou que, na maioria dos países desenvolvidos, o mercado de trabalho permanecia robusto, a confiança dos consumidores tinha começado a recuperar e a dos empresários tinha estabilizado ou melhorado. Deste modo, a organização reviu em alta a projeção do PIB real global tanto para 2023, de 2,2% para 2,6%, como para 2024, de 2,7% para 2,9%.

Ao nível de dados divulgados, na Área Euro (AE), alguns indicadores notaram um arrefecimento na trajetória de recuperação encetada nos últimos meses. De facto, o indicador de sentimento económico, que afere o nível de confiança de vários setores empresariais e dos consumidores, desceu pelo segundo mês consecutivo em março, após três meses de melhoria. No mesmo sentido, a leitura preliminar do indicador de atividade da indústria, para o referido mês, caiu para o mínimo de 4 meses, permanecendo em território de contração. Contudo, o congénere dos serviços subiu para o máximo de 10 meses, situando-se em território de expansão.

Nos EUA, a atividade continuou resiliente, embora também se tenha observado uma moderação em alguns dados, nomeadamente os da indústria, do consumo e do mercado de trabalho. Aliás, a estimativa da Fed de Atlanta para o crescimento do PIB real no 1ºT de 2023 manteve-se estável, continuando a indicar uma variação em cadeia de 0,6%. Já os dados de mercado de trabalho continuaram em níveis sólidos, mas denotaram alguma suavização. A título de exemplo, a taxa de desemprego em fevereiro subiu de 3,4% para 3,6% e a criação de empregos abrandou de 504 mil para 311 mil.

Relativamente aos bancos centrais, o Banco Central Europeu (BCE) aumentou as taxas diretoras em 50 pontos base (p.b.), em linha com o que havia indicado em fevereiro, e informou que as futuras decisões dependerão dos dados económico-financeiros. Adicionalmente, considerou que o sector bancário encontrava-se resiliente, com bons níveis de capital e de liquidez. Em qualquer caso, se tal se demonstrasse necessário, estaria preparado para ceder liquidez ao sistema financeiro. Por seu turno, mencionou que a inflação total continuava elevada e a subjacente - excluindo energia, alimentação, álcool e tabaco - demonstrava rigidez. Aliás, o dado preliminar da métrica total de março desacelerou 8,5%, em variação homóloga (v.h.), para 6,9%, devido, sobretudo, à queda dos preços de energia, enquanto a vertente subjacente acelerou para 5,7%.

Nos EUA, a Reserva Federal americana (Fed) subiu as taxas diretoras em 25p.b. e referiu que algum aperto adicional da política monetária poderia ainda ser apropriado. Esta caracterização é menos taxativa que a anterior, que sinalizava como sendo adequado incrementos contínuos. Ademais, avaliou o sistema bancário como resiliente. No entanto, considerou que as disrupções recentemente ocorridas no setor bancário poderiam resultar num aperto das condições de crédito. Por fim, o índice de preços PCE, que consiste na métrica de referência da Fed para a estabilidade de preços, desacelerou de 5,3% v.h. em janeiro para 5,0% em fevereiro e a vertente que exclui alimentação e energia de 4,7% para 4,6%.

Mercados Financeiros: março 2023

Em março, a maioria dos mercados de ações valorizou, beneficiando da moderação da evolução dos preços e da expectativa dos investidores de uma atenuação do viés restritivo dos bancos centrais. Este desempenho ocorreu apesar da volatilidade a que se assistiu ao longo mês, promovida por receios sobre o setor bancário americano e europeu. Contudo, os ganhos não foram transversais a todas as geografias, tendo o do Reino Unido e o do Brasil evidenciado perdas. De referir que os títulos norte-americanos se destacaram pela positiva, em virtude da rápida intervenção das autoridades no sistema bancário e da perceção de que os problemas serão específicos a determinadas instituições e que a estrutura financeira dos grandes bancos é robusta.

Os mercados de dívida pública denotaram também uma volatilidade elevada no mês. Não obstante, o registo mensal foi positivo, com os índices de referência a valorizarem num contexto de forte queda das yields. Este desempenho foi sobretudo ao nível das componentes reais, num período em que os prémios de risco da inflação também evidenciaram uma diminuição. Para tal, foi crucial o ajuste em baixa das perspetivas de mercado para a evolução das taxas diretoras, uma vez que, perante sinais de fragilidade de alguns bancos, os investidores esperam uma maior flexibilidade da política monetária dos bancos centrais. Este enquadramento beneficiou os segmentos de dívida privada que, na sua maioria, evidenciaram ganhos, apesar do alargamento de spreads.

A classe de matérias-primas manteve-se relativamente estável, com os contributos negativos do segmento de energia a ser compensado pela valorização dos metais preciosos e dos bens agrícolas. Em específico, salientou-se a queda expressiva dos preços de gás natural para entrega nos EUA, reflexo da manutenção de inventários em níveis elevados. O agregado de metais industriais também evidenciou uma evolução negativa, ao ser condicionado pelas preocupações com a procura, com as cotações de alguns metais, como o níquel, a atingirem mínimos de vários meses. Em contraposição, denotou-se a forte apreciação dos metais preciosos, num contexto de forte queda das taxas de juro.

Já no mercado cambial, esteve em destaque a depreciação generalizada do dólar. De facto, a moeda norte-americana depreciou face à maioria das mais transacionadas globalmente, as do G10, designadamente o euro, como face às principais moedas de países emergentes. Esta dinâmica resultou do mercado ter passado a descontar que a Fed irá cortar as taxas diretoras na segunda metade deste ano. Já o euro evidenciou um perfil maioritariamente de apreciação, tanto face às moedas do G10 como às dos países emergentes.

No mercado monetário da AE, a taxa Euribor subiu na maturidade de 3 meses +29p.b. para 3,04% e na de 6 meses +5p.b. para 3,34%, enquanto desceu na de 12 meses -10p.b. para 3,62%.

Nota: dados a 31 de março de 2023, as rendibilidades obtidas constituem performances totais, em moeda local ou de referência.
As rentabilidades divulgadas representam dados passados, não constituindo garantia de rentabilidade futura. Fonte: Caixa Gestão de Ativos; informação publicamente disponível nos websites das seguintes entidades: OCDE, CE, Atlanta Fed, BLS, Eurostat, BEA, BCE e Fed.

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Acesso Caixadirecta

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No mês, salientou-se o desempenho positivo da maioria dos mercados acionistas, apesar de ter sido um mês marcado pelos receios sobre a resiliência do sistema financeiro.