Fevereiro 2025

12 mar 2025

Incerteza sobre as tarifas condiciona mercados

Em fevereiro, a nova Administração dos EUA anunciou diversas medidas relacionadas com a imigração e tarifas, incluindo taxas de 25% sobre importações do Canadá e do México, o que aumentou as tensões comerciais e os receios sobre o crescimento económico.

Em fevereiro, a nova Administração dos EUA anunciou diversas medidas relacionadas com a imigração e tarifas, incluindo taxas de 25% sobre importações do Canadá e do México, o que aumentou as tensões comerciais e os receios sobre o crescimento económico. A inflação acima da meta do Fed e incertezas na política comercial, além de possíveis cortes dos gastos públicos, afetaram a confiança de empresários e famílias, resultando na queda do consumo real. Neste panorama, as obrigações apresentaram um desempenho positivo, enquanto o índice de referência de ações dos EUA registou perdas, ao passo que o da Área Euro valorizou, impulsionado pelas perspetivas de um possível acordo de paz na Ucrânia.

Enquadramento: fevereiro 2025

Ao nível económico, fevereiro foi marcado pela aplicação de tarifas previamente anunciadas, além do anúncio de novas taxas que devem em breve entrar em vigor. Em termos de sentimento, empresários e consumidores reagiram negativamente, em grande medida como resultado da deterioração das expetativas acerca do aumento dos custos. Nos EUA, os números de atividade real referentes a janeiro surpreenderam em baixa, refletindo os impactos adversos dos eventos climáticos que afetaram várias regiões do país, enquanto na Área Euro (AE) voltaram a sinalizar um crescimento novamente muito moderado no primeiro trimestre do ano, após uma expansão de apenas 0,1% no anterior. Na Ásia, a economia japonesa registou um crescimento de 0,6% em relação ao trimestre anterior, depois de 0,4%, impulsionada pelo desempenho das exportações líquidas e por uma desaceleração da procura interna, com destaque para o consumo e o investimento. Por fim, importa ressaltar que o crescimento salarial continuou a tendência de aceleração.

Quanto à inflação, os relatórios referentes ao mês de janeiro apresentaram surpresas positivas, a nível global. A variação homóloga agregada demonstrou um incremento 0,2 p.p., de 2,1% para 2,3%, resultado idêntico ao revelado no caso da métrica subjacente (de 2,5% para 2,7%). Quer os bens, quer os serviços contribuíram para a surpresa em alta devido, sobretudo, aos preços dos automóveis no primeiro caso e à habitual atualização das tabelas de preços no início de cada ano, no outro. O contributo da energia manteve-se também como um fator relevante. No que respeita aos dados das principais economias, EUA e AE, neste caso já de fevereiro, registaram-se reduções das leituras homólogas, embora os níveis permaneçam acima do objetivo estipulado pelas respetivas autoridades monetárias.

Em termos da atuação dos bancos centrais, e num mês em que uma maioria líquida destes voltou a reduzir as taxas de juro diretoras, nos EUA o presidente da Fed apresentou as conclusões do Relatório Semestral da Política Monetária ao Congresso, uma análise à evolução da economia e do setor financeiro. Reiterou que o banco central não tem pressa para reduzir as taxas de juros de referência, com o Conselho de Governadores (CG) a considerar o grau de restritividade da política monetária como adequado. O crescimento económico e o mercado de trabalho foram caracterizados como “robustos” enquanto, acerca dos efeitos das medidas relacionadas com as tarifas e a imigração, enfatizou que, não cabendo ao banco central pronunciar-se sobre a matéria, a sua responsabilidade reside na resposta aos impactos que daí advenham.

A publicação da ata respeitante ao CG do BCE que decorreu em janeiro confirmou o apoio unânime à redução de 25 p.b. das taxas de juro diretoras decretada. Para além disso, o nível das taxas de juro base continuou a ser caraterizado como “restritivo”, e o contexto de desinflação como “bem encaminhado”. Relativamente ao efeito das tarifas, no caso da inflação foi considerado como ambíguo, embora, ao mesmo tempo, “pequeno”. Em contraste, o impacto no PIB foi entendido como “claramente negativo”.

Ainda na Europa, o Banco de Inglaterra reduziu em fevereiro, e como esperado, a taxa de juro diretora em 25 p.b., para 4,50%, enquanto em outras geografias, a Reserva da Austrália e a Reserva da Índia cortaram ambas, pela primeira vez neste ciclo, as respetivas taxas de juro.

Mercados Financeiros: fevereiro 2025

Os mercados acionistas registaram desempenhos distintos em fevereiro, destacando-se pela negativa os EUA e o Japão. A nova Administração dos EUA, liderada por Donald Trump, anunciou um conjunto alargado de novas medidas, em especial relacionadas com a imigração e a aplicação de tarifas, e embora várias não tenham ainda entrado em vigor, tais como a introdução de taxas de 25% sobre as importações do Canadá e do México, geraram o aumento das tensões comerciais e receios quanto ao impacto no crescimento económico. Além disso, a inflação em valores acima do objetivo da Fed e a perspetiva de cortes nos gastos do governo federal penalizaram a confiança. No Japão, por seu turno, a apreciação do iene prejudicou as ações. Do lado positivo, a Área Euro e a China, no primeiro caso justificado pelo início de conversações para um acordo de paz na Ucrânia e, no segundo pelo entusiasmo nos avanços da DeepSeek e dos resultados favoráveis do retalhista Alibaba.

No que se refere à dívida pública, os principais índices evidenciaram rendibilidades positivas, em especial o dos EUA ao registar o melhor desempenho mensal desde julho de 2024. Para esta dinâmica contribuiu, principalmente, o receio do impacto das tensões comerciais no crescimento económico. Tal contagiou, embora em uma menor magnitude, a apreciação dos índices dos países da Área Euro. Os segmentos de crédito valorizaram, apesar do alargamento dos spreads em dólares, impulsionados pela descida das yields.

O índice agregado de matérias-primas denotou um ganho modesto, apesar das preocupações relacionadas com o impacto da aplicação de novas tarifas às importações norte-americanas. Para tal demonstrou-se relevante a manutenção da resiliência do comércio internacional e a melhoria das expectativas na China. O início de conversações com vista a um acordo de cessar fogo na Ucrânia refletiu-se na expectativa de redução das restrições em vigor nas cadeias de abastecimento, potenciando a descida do preço do petróleo e dos bens agrícolas. No entanto, o compósito agregado beneficiou do desempenho positivo dos metais industriais, em particular do cobre, uma das matérias-primas visadas pelo anúncio de imposição de tarifas norte-americanas. Outro contributo determinante foi a subida, no mês, de cerca de 25% da cotação do gás natural para entrega nos EUA em função do aumento da procura dado o clima mais frio.

Ao nível do mercado cambial, o euro apreciou marginalmente face ao dólar devido à diminuição do otimismo em relação ao ímpeto da atividade económica norte-americana. No entanto, a moeda europeia registou perdas face à generalidade das divisas de países do G10 perante a expectativa de continuação da flexibilização da política monetária do BCE. Nota para a valorização do iene, fruto das pressões inflacionistas no Japão.

No que respeita ao mercado monetário, as taxas Euribor evidenciaram quedas mensais significativas, com as dos prazos a 3 e a 6 meses a atingirem mínimos desde dezembro e outubro de 2022, respetivamente.

Nota: dados a 28 de fevereiro de 2025, as rendibilidades obtidas constituem performances totais, em moeda local ou de referência.
As rentabilidades divulgadas representam dados passados, não constituindo garantia de rentabilidade futura. Fonte: BEA, US Census Bureau, Eurostat, Fed, BCE, Banco de Inglaterra, Cabinet Office (Governo do Japão), Reserva da Austrália, Reserva da Índia.

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Acesso Caixadirecta

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