Junho 2025

11 jul 2025

Mercados valorizam com sinais de estabilização global

Em junho, a redução das tensões comerciais e a trégua entre o Irão e Israel conduziram a ganhos dos principais índices acionistas. O dólar caiu para o nível mais baixo face ao euro desde o verão de 2021.

O mês de junho foi marcado por uma melhoria significativa do sentimento dos investidores, suportado pela redução das tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China e pela trégua entre o Irão e Israel. Do lado económico, alguns dados surpreenderam pela positiva, evidenciando uma economia resiliente e uma inflação em desaceleração. A Fed manteve as taxas inalteradas, enquanto na Europa a inflação mais baixa permitiu que vários bancos centrais, incluindo o BCE, avançassem com cortes nas taxas. Os principais índices acionistas registaram ganhos e a dívida norte-americana valorizou. Outro destaque do mês foi a depreciação do dólar, que face ao euro caiu para o nível mais baixo desde 2021.

Enquadramento: junho 2025

Ao nível económico, em junho o Bureau of Economic Analysis reviu ligeiramente em alta a magnitude da contração do PIB no primeiro trimestre deste ano. Quanto aos indicadores mensais, realce, primeiro, para o consumo das famílias, com uma queda real ainda em maio de 0,3% face ao mês anterior, numa altura em que, apesar da resiliência demonstrada, são visíveis sinais de moderação na criação de emprego, e, segundo, para a debilidade que tem sido evidente no mercado de habitação e de construção, devido às taxas hipotecárias persistentemente elevadas. Na Área Euro, onde o Eurostat reviu em alta o crescimento da economia durante o primeiro trimestre, de 0,3% para 0,6%, em cadeia, os indicadores de mensuração de atividade das empresas de junho indiciaram o retorno a um crescimento baixo, embora estável. Em termos de sentimento, o dado mensal do instituto de estatística da União Europeia sofreu a terceira perda em quatro meses, devido ao setor da indústria e à confiança das famílias. Quanto ao desemprego, a taxa regressou ao mínimo histórico de 6,2%.

Relativamente à inflação, em termos globais a variação homóloga dos preços diminuiu para o valor mais baixo desde setembro do ano passado, fixando-se num registo muito próximo do valor de 2 pontos percentuais. Nos EUA, apesar da ligeira aceleração do crescimento dos preços das despesas do consumo em maio, com a variação homóloga a permanecer acima do objetivo da Reserva Federal, as expetativas de inflação dos consumidores recuaram ligeiramente em junho, pelo segundo mês. Na Área Euro, o crescimento dos preços moderou em maio para o patamar mais baixo em oito meses, tendo regressado a um nível inferior à meta de 2%. Realce ainda, na Ásia, para a manutenção, no mesmo mês, da inflação japonesa num registo muito superior ao pretendido, enquanto na China se mantiveram os riscos deflacionistas, com a respetiva variação homóloga do IPC a manter-se pelo segundo mês em terreno negativo.

No que respeita à atuação dos bancos centrais, o Banco Central Europeu voltou a reduzir em junho os juros diretores em 0,25 pontos percentuais (p.p.), colocando a taxa da facilidade de depósito em 2,0%, nível mais baixo desde fevereiro de 2023. Ampliou-se, assim, para 2 p.p. a descida acumulada dos juros desde junho de 2024. A decisão do Conselho de Governadores (CG) foi praticamente unânime, não tendo tido o apoio de apenas de um dos seus membros. A presidente Lagarde considerou que a atual política monetária está “bem posicionada" para lidar com o presente período de elevada incerteza. Com esta afirmação, a presidente da autoridade europeia poderá ter desejado sinalizar a interrupção do ciclo de descidas na reunião de julho, avaliando nas reuniões seguintes se o CG anunciará cortes adicionais.

A Reserva Federal manteve em junho, como esperado, o intervalo-meta para a taxa de juro diretora (entre 4,25%-4,50%). As novas projeções dos membros do comité de política monetária reviram em baixa o crescimento do PIB em 2025, enquanto a previsão para a inflação foi revista em alta. No que respeita às perspetivas para os níveis das taxas de juro diretoras, o ponto mediano para 2025 continuou a mostrar dois novos cortes de 0,25 p.p.. Durante o próximo ano, espera-se agora somente um corte, enquanto o de 2027 foi conservado. Isto poderá refletir a preocupação demonstrada pelo Comité de que a inflação possa permanecer persistentemente acima da meta de 2%.

Mercados Financeiros: junho 2025

O mês de junho ficou marcado por um desempenho positivo dos mercados de ações, prolongando a valorização iniciada em meados de abril. Os ganhos foram particularmente expressivos nos EUA, no Japão e nos mercados emergentes, com vários índices de referência a atingirem novos máximos. Para esta evolução contribuiu um diversificado conjunto de fatores, de que se destacam sinais de diminuição das tensões comerciais, o anúncio de cessar-fogo entre Israel e o Irão e a redução das pressões inflacionistas nos EUA. Ao nível dos preços no consumidor, não são ainda visíveis efeitos relevantes da subida das tarifas sobre as importações. Esta evolução dá assim espaço à Reserva Federal para eventuais descidas das taxas diretoras. Os principais índices europeus alcançaram um desempenho menos favorável, permanecendo, no entanto, com uma valorização superior desde o início do ano, graças aos ganhos dos meses precedentes.

Nos mercados de obrigações de dívida pública, observou-se uma evolução diferenciada entre a valorização das obrigações dos Estados Unidos face a ligeira queda das da Área Euro. Em resultado, as yields dos EUA registaram um movimento de descida significativa, enquanto na Área Euro, as de prazos mais longos subiram. No que respeita à dívida privada, registaram-se ganhos, suportados pela maior apetência dos investidores por ativos de maior risco, tendo-se salientado os desempenhos das emissões em dólares.

O compósito agregado de matérias-primas obteve ganhos em junho, impulsionados pelos segmentos de energia e de metais industriais. O preço do petróleo subiu cerca de 9% face ao mês anterior, em função do agravamento da tensão geopolítica no Médio Oriente. As operações militares levadas a cabo por Israel contra alvos iranianos - a que se seguiu um ataque dos EUA a três instalações nucleares - levaram a uma subida acentuada do preço do petróleo, que acabou por não ser anulada na totalidade após o anúncio de cessar-fogo. Os metais industriais foram favorecidos pela melhoria do sentimento, em particular o cobre. Os metais preciosos tiveram um desempenho positivo, mas menor que em meses anteriores. O ouro continuou a beneficiar da persistência de elevada incerteza geopolítica.

Ao nível do mercado cambial, o dólar acentuou o movimento de depreciação, face à maioria das principais moedas, dos meses anteriores, o que reflete a continuação da incerteza em torno da política económica e comercial dos EUA, bem como a expetativa de descidas das taxas diretoras pela Reserva Federal. A divisa norte-americana foi também pressionada pelos receios de deterioração das contas públicas. Em resultado, o euro prosseguiu a sua apreciação, avançando quase 14% face ao dólar desde o início do ano.

No que respeita ao mercado monetário, as taxas Euribor evidenciaram quedas em junho, nos prazos a 3 meses (-5 p.b.) e a 6 meses (-2 p.b.). Nestes referenciais foram atingidos os níveis mínimos desde outubro e novembro de 2022. A 12 meses, o mínimo recente data do último mês de maio.

Nota: dados a 30 de junho de 2025, as rendibilidades obtidas constituem performances totais, em moeda local ou de referência.

As rentabilidades divulgadas representam dados passados, não constituindo garantia de rentabilidade futura. Fonte: BEA, BLS, US Census Bureau, Eurostat, BCE, Reserva Federal, Ministry of Internal Affairs and Communications of Japan e National Bureau of Statistics of China.

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