Março 2025

10 abr 2025

Tensões comerciais condicionam economia e mercados

Em março, os anúncios, por parte da Administração dos EUA, de imposição de tarifas às importações, numa magnitude superior à antecipada, espoletaram receios com o impacto adverso da política comercial na economia gerando perdas nos mercados acionistas.

Em março, os anúncios, por parte da Administração dos EUA, de imposição de tarifas às importações, numa magnitude superior à antecipada, espoletaram preocupações com o impacto adverso da política comercial na economia. Em paralelo, a expectativa desses efeitos penalizou o sentimento de empresários e consumidores, no segundo caso a diminuir para o mínimo de mais de uma década. Neste contexto, os mercados de ações evidenciaram perdas, com realce para o dos EUA, e os de obrigações desempenhos mistos, com o de dívida pública norte-americana a valorizar enquanto o europeu foi condicionado pelo anúncio, pela Comissão Europeia, de um plano significativo de investimento em defesa e segurança.

Enquadramento: março 2025

Ao nível económico, a OCDE publicou o Economic Outlook de março de 2025, tendo dado enfâse à perspetiva de moderação do crescimento económico em face dos indicadores de sentimento mais recentes terem sofrido quedas substanciais, sobretudo os dos consumidores, e como resultado da incerteza relativa à política comercial dos EUA. Com as estimativas de expansão da atividade das principais economias de 2025 e 2026 reduzidas, o estatuto de exceção da norte-americana foi colocada em causa devido a dois fatores preponderantes. Em primeiro lugar, em função dos expetáveis impactos negativos que o agravamento dos custos com a importação e o cortes das despesas públicas comportam e, em segundo lugar, em resultado das intenções que foram demonstradas pela Área Euro (AE) e pela Alemanha de adoção de uma política orçamental com um cariz mais expansionista dirigida à defesa, e, no segundo caso, também às infraestruturas, terem melhorado as perspetivas de crescimento da região ao longo dos próximos anos, isto numa altura em que o grau de expansão da atividade permanece muito baixo.

Relativamente à inflação, de acordo com a OCDE as pressões inflacionistas continuam presentes em diversas economias e elevadas no caso dos serviços. Embora tenha revisto em alta os valores de 2025, continua a antever uma trajetória de gradual moderação, à medida que o crescimento económico desacelere, devendo o crescimento dos preços, ainda em 2026, manter-se acima da meta dos bancos centrais em diversos países, incluindo nos EUA. Neste caso, as expetativas e os receios com a inflação de consumidores e de empresários continuaram a aumentar, enquanto o crescimento da inflação subjacente acelerou. Pelo contrário, na AE o crescimento homólogo arrefeceu, de novo devido ao decréscimo do contributo da rubrica dos serviços.

Em termos da atuação dos bancos centrais, e num mês em que uma maioria líquida voltou a diminuir as taxas de juro diretoras, o Banco Central Europeu reduziu as suas taxas em 25 p.b., como antecipado, fixando a da facilidade do depósito em 2,50%. À imagem das reuniões anteriores, o progresso quanto ao processo desinflacionista foi destacado e descrito como "bem encaminhado". O principal destaque prendeu-se com a caraterização do grau de restritividade da política monetária por parte do Conselho de Governadores, descrito como “significativamente menor”. Os especialistas do BCE reviram em baixa o crescimento do PIB entre 2025 e 2027, enquanto a inflação prevista para 2025 foi ligeiramente revista em alta, de 2,1% para 2,3%, principalmente devido à perspetiva de preços da energia mais elevados. A variação homóloga continuará acima do objetivo de 2% em 2025, devendo atingir aquela percentagem somente no decurso do primeiro trimestre do próximo ano.

Ainda na Europa, o Banco Nacional da Suíça reduziu em 25 p.b., de 0,50% para 0,25%, a sua taxa de juro diretora.

Nos EUA, a Fed manteve inalterado o intervalo-objetivo para a taxa dos fundos federais entre 4,25% e 4,50%. O banco central continuou a descrever a atividade económica e o mercado de trabalho como “sólidos”, e a inflação como "um tanto elevada“. A principal alteração, a nível comunicacional, correspondeu ao facto de ter sublinhado que "a incerteza em torno das perspetivas económicas aumentou”. Enquanto a projeção de crescimento no final de 2025 foi revista em baixa, a da inflação foi incrementada.

Mercados Financeiros: março 2025

Em março, os mercados acionistas evidenciaram perdas, tendo o compósito dos desenvolvidos registado uma depreciação mais significativa do que o de emergentes. O índice de referência dos EUA destacou-se pela negativa ao denotar o segundo mês consecutivo de descida, algo observado pela última vez no último trimestre de 2023, tendo a Área Euro acompanhado o movimento descendente, ainda assim, no entanto, em menor magnitude face ao seu congénere. Para esta envolvência contribuiu, principalmente, a implementação de novas tarifas pela Administração dos EUA que desencadeou receios quanto aos seus efeitos adversos no crescimento económico, e sobretudo no caso dos próprios EUA, uma vez que de acordo com estimativas da OCDE, a atividade norte-americana poderá ser a mais condicionada pelas medidas. Por outro lado, na Área Euro, a perspetiva de gastos públicos significativos atenuou, em parte, o menor otimismo dos investidores em relação à classe.

No que se refere à dívida pública, os principais índices evidenciaram desempenhos distintos, com a valorização marginal do norte-americano a contrastar com as perdas do europeu. Enquanto do lado dos EUA os receios do impacto das tarifas anunciadas no crescimento e a leitura benigna da inflação culminaram em ganhos das obrigações, na Europa a expectativa do aumento da dívida prejudicou a rendibilidade. Os segmentos de crédito depreciaram, condicionados pelo aumento dos spreads e, nos euros, adicionalmente pela subida das yields.

O índice agregado de matérias-primas denotou um ganho superior ao do mês passado, impulsionado, sobretudo, pelo contributo dos metais preciosos, com destaque para ouro, cujo cotação alcançou sucessivos máximos históricos, ao beneficiarem do agravamento da aversão ao risco à medida que se intensificaram os indícios de implementação de tarifas às importações dos EUA mais gravosas do que o previsto. Os metais industriais e a energia tiveram apreciações muito similares. No primeiro caso, realce uma vez mais para a apreciação do cobre, e, no segundo, para a forte retoma da cotação do petróleo no final do mês como consequência da possibilidade lançada por Donald Trump de imposição de “tarifas secundárias” sobre as exportações de crude da Rússia, do Irão e da Venezuela. No caso do segmento agrícola, este registou uma rendibilidade marginalmente negativa.

Ao nível do mercado cambial, o euro apreciou face ao dólar pelo terceiro mês, impulsionado pelo anúncio de maiores despesas governamentais e pela diminuição, mesmo que implícita, da probabilidade atribuída pelo mercado a novas descidas dos juros de referência. Nota para a perda de valor do dólar, em termos efetivos, com base nos receios quanto ao impacto de maiores tarifas sobre o crescimento dos EUA.

No que respeita ao mercado monetário, as taxas Euribor evidenciaram de novo quedas em março, com as dos prazos a 3 meses (-13 p.b.) e a 6 meses (-2 p.b.) a atingirem mínimos desde janeiro de 2023 e novembro de 2022, respetivamente.

Nota: dados a 31 de março de 2025, as rendibilidades obtidas constituem performances totais, em moeda local ou de referência.
As rentabilidades divulgadas representam dados passados, não constituindo garantia de rentabilidade futura. Fonte: OCDE, Eurostat, Fed, BCE, Banco Nacional da Suíça.

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Acesso Caixadirecta

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Tensões comerciais condicionam economia e mercados

Em março, os anúncios, por parte da Administração dos EUA, de imposição de tarifas às importações, numa magnitude superior à antecipada, espoletaram receios com o impacto adverso da política comercial na economia gerando perdas nos mercados acionistas.