Abril 2025

14 mai 2025

“Dia da Libertação” impulsiona volatilidade e incerteza

O agravamento das tarifas, no início de abril, elevou a aversão ao risco e afetou as ações. Uma retração parcial permitiu uma recuperação limitada, embora a incerteza tenha permanecido, num mês em que as obrigações valorizaram e o dólar depreciou.

No início de abril, Donald Trump, no “Dia da Libertação”, anunciou um aumento significativo das tarifas, elevando os receios sobre o comércio internacional e com a economia global. Tal repercutiu-se nas quedas substanciais dos principais índices acionistas. A Administração americana depois suspendeu as tarifas por 90 dias, permitindo uma recuperação parcial das perdas registadas, mas a incerteza sobre a confiança económica persistiu. Enquanto as obrigações ganharam valor, o dólar desvalorizou em relação a outras moedas. Perante a elevada incerteza, sobretudo da política do EUA, reduzimos a exposição a dólares e a ações, em específico às do Japão, geralmente impactadas pela depreciação da moeda americana.

Enquadramento: abril 2025

Ao nível económico, nos EUA, após a economia ter registado no inicio do ano a primeira contração em três anos, derivado do significativo incremento das importações, os indicadores de atividade empresarial e de sentimento de abril voltaram a apontar para o enquadramento de menor dinamismo quando comparado com o de 2024, destacando-se, no segundo caso, a reduzida confiança das famílias devido a mais uma subida das expetativas de inflação. Quanto aos números relativos ao mercado de trabalho, continuaram a evidenciar uma notória resiliência, com a taxa de desemprego inalterada em 4,2%. Na Área Euro (AE), onde o PIB surpreendeu pela positiva no 1º trimestre devido, sobretudo, ao contributo da economia da Irlanda. Os valores de atividade e de sentimento recuaram igualmente, sendo de realçar o caso daqueles afetos à prestação de serviços. Na China, o crescimento abrandou no primeiro trimestre, destacando-se, ainda, a contínua depreciação dos preços dos ativos imobiliários, embora em menor magnitude do que nos meses precedentes.

Relativamente à inflação, os indicadores, referentes ainda ao mês de março desaceleraram em ambos os lados do Atlântico, principalmente devido à queda dos preços da energia ao longo do primeiro trimestre de 2025. Nos EUA, apesar da moderação, o crescimento dos preços no consumidor permaneceu acima do objetivo da Fed, enquanto as expetativas dos consumidores com o crescimento dos preços a um ano atingiram um máximo desde 1981. No caso europeu, a estimativa preliminar já de abril revelou que o crescimento homólogo do índice harmonizado de preços no consumidor permaneceu muito próximo do objetivo de 2%, tendo-se assistido a um maior contributo dos serviços devido à época pascal, geralmente associada a fortes aumentos da procura por passagens aéreas e alojamento turístico.

No que respeita à atuação dos bancos centrais, o Banco Central Europeu voltou a reduzir em abril as taxas de juro diretoras em 25 p.b., colocando a taxa da facilidade de depósito em 2,25%, o nível mais baixo desde janeiro de 2023, ampliando para 175 p.b. a descida acumulada das taxas de juro de referência desde o início do atual ciclo, em junho de 2024. Tendo a decisão sido tomada por unanimidade, a autoridade monetária voltou a considerar que o processo de desinflação se encontra “bem encaminhado”, sublinhando a descida da inflação ao nível dos serviços. Foi também enaltecida a moderação do crescimento dos salários. Os riscos negativos à evolução dos preços (decorrentes da descida dos contributos advindos da energia e da apreciação do euro) são referidos antes dos riscos inflacionistas, o que poderá sugerir que o BCE vê o choque das tarifas como sobretudo desinflacionista para a AE, pelo menos no curto e no médio prazo. Quanto à atividade, as perspetivas de crescimento deterioraram-se visivelmente, em resultado do aumento da incerteza associada às tensões comerciais.

Nos EUA, os responsáveis da Reserva Federal realizaram múltiplas intervenções públicas ao longo das últimas semanas transmitindo um enviesamento a favor da manutenção das taxas diretoras, visando ancorar as expetativas de inflação e minimizar o risco de que o aumento pontual dos preços devido às tarifas se torne sustentado. Em particular, Jerome Powell defendeu a necessidade de aguardar pela divulgação de mais indicadores que permitam uma maior visibilidade sobre a direção da economia norte-americana, antes de voltar a alterar os juros.

Mercados Financeiros: abril 2025

O mês de abril foi caraterizado por níveis de volatilidade particularmente elevados, alcançando inclusive o segundo patamar mais alto em várias décadas, apenas ultrapassado pelos períodos da Covid-19 e da Grande Crise Financeira de 2008. O anúncio do plano de tarifas recíprocas sobre as importações de bens dos EUA pela Administração Trump gerou um movimento de acentuada aversão ao risco e fortes perdas dos principais índices acionistas globais. As empresas com cadeias de produção em diversos países, cujos resultados se encontram mais expostos aos acréscimos de custos que as tarifas irão acarretar, estiveram entre as mais penalizadas. A moderação do discurso da Administração Trump quanto às tarifas possibilitou a recuperação gradual e parcial das perdas registadas, favorecida também pelo tom genericamente positivo dos resultados empresariais no 1º trimestre. A AE acompanhou a dinâmica dos EUA, tendo o mercado japonês, em contraciclo, encerrado o mês com um ganho.

No que se refere à dívida pública, as yields das obrigações dos EUA e da AE evidenciaram um movimento de descida significativa. O anúncio das tarifas recíprocas sobre as importações dos EUA gerou o aumento da procura por ativos de refúgio, em particular de obrigações do Tesouro, e por outro lado potenciou receios acerca do crescimento económico. Os segmentos de crédito apreciaram no caso das emissões em euros, enquanto as em dólares permaneceram inalteradas.

O índice agregado de matérias-primas denotou uma depreciação no mês de abril, um comportamento que se deveu principalmente aos segmentos de energia e de metais industriais. Realce para o petróleo, cujas cotações de referência, para a Europa e para os EUA, sofreram descidas significativas, no primeiro caso a maior desde março de 2020. Este desempenho refletiu receios com o crescimento global, e a decisão por parte da Agência de Informação de Energia nos EUA de cortar as previsões de procura. Para além das perspetivas mais negativas em relação à evolução da atividade, a manutenção de um elevado clima de incerteza geopolítica contribuiu para agudizar ainda mais o sentimento de aversão ao risco. Tal beneficiou a classe dos metais preciosos, sobressaindo, uma vez mais, o ouro, cuja onça subiu pelo quarto mês, atingindo sucessivos máximos históricos.

Ao nível do mercado cambial, o euro apreciou pelo quarto mês consecutivo face ao dólar, apesar da redução as taxas diretoras por parte do BCE. A divisa da AE, inclusive, alcançou a cotação mais elevada desde novembro de 2021. Nota, novamente, para a queda do valor do dólar, em termos efetivos, que desde janeiro acumula já uma perda de 9,7%, reflexo crescente sentimento de desconfiança dos investidores na economia dos EUA.

No que respeita ao mercado monetário, as taxas Euribor evidenciaram novas quedas em abril, com os dos prazos a 3 meses (-18 p.b.) e a 6 meses (-20 p.b.) a atingirem mínimos desde dezembro e de setembro de 2022, respetivamente.

Nota: dados a 30 de abril de 2025, as rendibilidades obtidas constituem performances totais, em moeda local ou de referência.
As rentabilidades divulgadas representam dados passados, não constituindo garantia de rentabilidade futura. Fonte: Eurostat, BEA, BCE, Reserva Federal.

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Acesso Caixadirecta

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O agravamento das tarifas, no início de abril, elevou a aversão ao risco e afetou as ações. Uma retração parcial permitiu uma recuperação limitada, embora a incerteza tenha permanecido, num mês em que as obrigações valorizaram e o dólar depreciou.