Outubro 2025

18 nov 2025

Paralisação do governo dos EUA não prejudica as ações

Em outubro, a inflação abaixo do esperado e a desaceleração do mercado do trabalho nos EUA abriram caminho a novo corte dos juros pela Fed. A redução das disputas comerciais e o crescimento robusto dos lucros conduziu os índices de ações a novos máximos.

Em outubro, a ausência de acordo no Senado dos EUA acerca do financiamento federal levou à paralisação do governo. A inflação mensal, abaixo do antecipado, e os dados estaduais relativos ao desemprego, a refletir a desaceleração do mercado do trabalho, abriram caminho para outro corte, de 0,25 p.p., das fed funds pela Reserva Federal. Em contraposição, o BCE manteve as taxas diretoras perante a inflação em torno do objetivo. A perspetiva de resiliência económica, a flexibilização da política monetária dos EUA e a redução das disputas comerciais internacionais, com o crescimento robusto e superior às expectativas dos lucros, conduziu os principais índices de ações a novos máximos.

Enquadramento: outubro 2025

Ao nível económico, o FMI publicou o World Economic Outlook do outono, continuando a esperar uma desaceleração da economia global nos próximos dois anos, embora de forma muito gradual. O fundo monetário reviu, inclusive, em alta, as estimativas de crescimento para as principais economias, ainda que tenha salientado riscos descendentes a nível global devido às tensões geopolíticas e comerciais, fragilidades orçamentais e potenciais correções dos ativos financeiros. Na Área Euro (AE), o crescimento acelerou no terceiro trimestre, superando a estimativa dos analistas e do BCE. A dinâmica permaneceu diferenciada entre as economias da região, destacando-se o desempenho da França e de Espanha, por oposição à estagnação da Alemanha e da Itália. Em outubro, os dados de sentimento dos empresários e de mensuração da atividade das empresas evidenciaram aumentos, sinalizando uma aceleração neste trimestre. Nos EUA, devido ao encerramento parcial do governo federal foi divulgado um número limitado de indicadores. Neste contexto, os relatórios de entidades privadas ganharam relevância, destacando-se a queda da confiança dos consumidores para o patamar mínimo em seis meses, e a estimativa para a criação de postos de trabalho no setor privado, que regressou a terreno de expansão, apesar do número baixo.

Quanto à inflação, a evolução global tem denotado uma ligeira subida. Nos EUA, embora tenha ficado abaixo das expectativas em setembro, devido à moderação do contributo dos serviços, tal não foi suficiente para que a Reserva Federal (Fed) sinalizasse que está controlada, sobretudo porque os preços dos bens têm revelado um ligeiro aumento, refletindo algum impacto das tarifas. Na AE, a estimativa rápida indicou em outubro uma desaceleração, refletindo um menor contributo da “alimentação, bebidas e tabaco”, enquanto a inflação subjacente se manteve em 2,4%, impulsionada pelos “serviços”, cuja variação aumentou pelo segundo mês.

Como antecipado, o Conselho de Governadores (CG) do BCE decidiu de novo manter as taxas de juro diretoras inalteradas em outubro. No caso da facilidade do depósito, a taxa foi conservada em 2%. O discurso da presidente, Christine Lagarde, sugere uma diminuição de alguns fatores de risco para o crescimento, realçando o plano de paz para o Médio Oriente e a diminuição das tensões comerciais entre os EUA e a China. Lagarde reiterou a ideia de que a autoridade monetária se encontra numa "boa posição“ face às condições económicas da AE, o que reforça a expectativa de manutenção dos atuais níveis das taxas de juro diretoras ao longo dos próximos meses.

Nos EUA, o CG da Reserva Federal reduziu em 25 p.b. os limites do intervalo-objetivo para a taxa de juro diretora, pelo segundo mês consecutivo, para [3,75% ; 4,00%]. O presidente, Jerome Powell, defendeu que um corte adicional da taxa de juro diretora em dezembro está longe de estar assegurado, o que conduziu a um ajustamento das expectativas do mercado para os próximos meses. Em particular, diminuiu a probabilidade atribuída a uma terceira descida dos juros já em dezembro, que deste modo deixou de estar descontada na totalidade. A autoridade monetária anunciou também que, a partir de 1 de dezembro, irá interromper o processo de redução do respetivo balanço, com os vencimentos de MBS a serem reinvestidos em Bilhetes do Tesouro.

Mercados Financeiros: outubro 2025

Os mercados de ações reforçaram no mês de outubro o desempenho positivo registado em 2025. Nos EUA prosseguiu a trajetória de valorização que se observa desde a segunda metade de abril. O setor tecnológico destacou-se, impulsionado pelo anúncio de investimentos na área da inteligência artificial por empresas de grande capitalização. Os resultados empresariais robustos do 3º trimestre já apresentados, acima das expectativas, e a convicção de que a flexibilização da política monetária da Fed contribuirá para estimular a economia e os lucros levaram os índices de referência a atingir sucessivamente novos máximos históricos. Na AE, as ações foram suportadas pela evolução favorável de alguns indicadores de atividade e pelo recuo do euro. O bloco emergente patenteou de novo rendibilidades significativas, bem como o mercado japonês, onde a eleição da nova primeira-ministra Sanae Takaichi, defensora de investimento e consumo públicos visando estimular a atividade, reforçou o otimismo dos investidores.

Nos mercados de obrigações de dívida pública, os principais índices registaram ganhos, graças ao contributo da descida das taxas de juro implícitas, principalmente nos prazos mais longos da curva de rendimentos. Esta dinâmica resultou do ciclo de flexibilização da política monetária e da paralisação do governo nos EUA. O desempenho de dívida corporativa foi de igual modo positivo, tendo os segmentos de grau de investimento denotado uma apreciação superior face ao especulativo.

O compósito agregado de matérias-primas valorizou no mês, com ganhos provenientes de todos os segmentos. O movimento ascendente das cotações dos metais preciosos permaneceu muito expressivo. O ouro renovou sucessivos máximos históricos, assistindo-se de seguida a uma consolidação daquela tendência, possivelmente devido à tomada de mais-valias, num quadro de diminuição das tensões comerciais entre os EUA e a China. Ainda assim, os metais industriais registaram o desempenho mais positivo, nomeadamente o cobre, impulsionado pela melhoria de perspetivas de maior investimento a médio prazo na China e por receios de diminuição de oferta. No segmento agrícola, realce para subida dos preços da soja, em função de um acréscimo da procura advinda da China. Em contraposição, na energia, o preço do petróleo caiu ligeiramente devido ao excesso de oferta.

No mercado cambial, o dólar apreciou face às outras principais divisas, beneficiando da diminuição das tensões comerciais e do discurso de Powell após o CG da Fed, ao afirmar que uma nova descida dos juros em dezembro não está assegurada. O euro foi penalizado pela preocupação em torno da situação política e orçamental francesa, perdendo 1,7% face ao dólar. O iene depreciou, com a nomeação do novo governo nipónico, crítico da subida dos juros pelo Banco do Japão.

No mercado monetário, as taxas Euribor a 3 e a 6 meses apresentaram uma subida ligeira, enquanto a taxa a 12 meses se manteve inalterada. Esta evolução traduz a expectativa de que o ciclo de descida de juros pelo BCE terá terminado.

Nota: dados a 31 de outubro de 2025, as rendibilidades obtidas constituem performances totais, em moeda local ou de referência.

As rentabilidades divulgadas representam dados passados, não constituindo garantia de rentabilidade futura. Fonte: FMI, Eurostat, BEA, BLS, Banco Central Europeu e Reserva Federal dos EUA.

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Acesso Caixadirecta

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